Lembrar que uma dose de conscientização e de prevenção cai bem!
O Carnaval cada vez mais atrai gente para as ruas das cidades brasileiras para brincar. Nestes dias, cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, entre outras mais, o clima de festa e de alegria envolve milhares e milhares de pessoas em uma das maiores festas populares do mundo. Deste modo, vale ressaltar o lado positivo quanto à circulação de recursos financeiros para as cidades e a criação de vagas de trabalho, gerando benefícios diretos e indiretos para a população. Segundo dados do próprio governo municipal, estima-se que no período das festas, só no Rio de Janeiro, deverão ser injetados na economia local, mais de 2 bilhões de reais neste ano. A rede hoteleira já comemora a elevada taxa de ocupação de leitos. Apesar das crises política e econômica que o país e, em especial o Rio, atravessam, a cidade está cheia de foliões e de turistas. O movimento vem aumentando nas diversas cidades ano a ano, sobretudo com a promoção dos chamados blocos de rua, tradição resgatada dos antigos carnavais que está voltando em muitas cidades com grande força.
Todavia, associado à euforia e à alegria dos festejos carnavalescos, o elevado consumo de bebidas alcoólicas, sobretudo de cerveja, é incentivado através de forte estratégia de marketing e publicidade, favorecido pela “cultura festiva” do brasileiro. Nos últimos anos, com o sucesso dos “Blocos de Rua”, a indústria da cerveja jogou o foco do seu marketing para esse novo e crescente filão, chegando a garantir, contando com parceria do governo municipal do Rio, a distribuição exclusiva de cerveja em um grupo de blocos, isto é, não poderia ser vendida outra cerveja a não ser a da empresa “oficial”. Contudo, ficando claro que não se trata aqui de demonizar as bebidas alcoólicas, a questão não é em si o álcool, mas sim os problemas relacionados com consumo abusivo, em excesso, que agrega relevantes riscos de acidentes, inclusive de trânsito, atos de violência e até homicídios.
Naturalmente, como médico, fica fácil verificar a situação das emergências dos hospitais lotados de casos decorrentes do consumo abusivo de bebidas registrados nos “boletins de ocorrências” (os BOs). Reportagem recente mostrou que em Londres o atendimento de pessoas com sérios problemas de alcoolismo tem lotado as Emergências dos Hospitais, prejudicando o atendimento de outras demandas mais graves: é quase uma epidemia. Embora ainda não tenhamos chegado a esse ponto, no Carnaval as nossas Emergências ficam cheias de pessoas com complicações do excesso de álcool. Levantamento feito pela Secretaria de Saúde poderia mostrar não só o impacto no atendimento, mas também os custos decorrentes. Seria interessante que Secretaria de Saúde, estadual e municipal, fizessem esse levantamento nos hospitais públicos durante esse período (hora/consulta, materiais gastos, na emergência, enfermaria, centro cirúrgico, leitos de CTI, etc.,…).
Nas Delegacias da Polícia Civil dos bairros seriam outros lugares onde se poderia medir as consequências do consumo excessivo de álcool neste período, embora durante o ano inteiro essas ocorrências são vistas em menor escala. Vale a pena chamar a atenção para o preocupante cenário que é a presença cada vez maior dos jovens e de mulheres entre os consumidores. Um dos fatores dessa situação em relação à cerveja é o fato de se considerar a cerveja uma bebida alcoólica “mais leve” em face do seu teor alcoólico ser de 5%. Cabe esclarecer que a cerveja possui, praticamente, a mesma quantidade de álcool puro por dose padrão (um chope ou uma latinha) do que uma taça de vinho (teor de 11% em média) ou uma dose de cachaça ou de uísque (teor de 40%). De qualquer modo, o importante é saber que o abuso de bebidas alcoólicas representa sérios riscos para saúde e de riscos de acidentes e situações de violência.
Portanto, sem querer botar água no chope de ninguém, é sempre bom lembrar que é “melhor prevenir do que remediar”. Enfim, amplas campanhas de conscientização e de prevenção, como a do Ministério da Saúde faz em relação a AIDS e a Dengue, e agora com a Febre Amarela, deveriam ser realizadas de forma mais abrangente como iniciativas não só das autoridades competentes, como Ministérios e Secretarias da Saúde, da Educação, da Justiça, entre outros órgãos, além do Denatran e Detrans, mas também, como ações dos diversos protagonistas da Sociedade civil organizada.
A Polícia Rodoviária Federal desenvolve todos os anos excelentes campanhas de prevenção nas estradas do país em face de ser este período de Carnaval, como outros grandes feriados, época de maior risco de acidentes graves e com vítimas fatais. As blitz da Lei Seca (Lei nº 11 705/2008), sem dúvida, também dão inestimável contribuição na prevenção de acidentes de trânsito. Contudo, o número de vitimas fatais ainda é muito grande, chegando em 2017 a cerca de 45 mil vítimas fatais, sendo mais da metade envolvida com o consumo de álcool (23 mortes/100 mil habts./ano), número bem acima dos níveis aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde – OMS – (menos de 10/100 mil habts/ano).
Considerando que somos signatários da “Campanha Mundial da Década de Segurança Viária 2011 – 2020” da ONU, temos uma grande responsabilidade na prevenção e redução dos riscos relacionados com o abuso de álcool e suas consequências. Mesmo assim, … Mas tudo bem, hoje já é Carnaval,…